segunda-feira, 12 de abril de 2010

Ilha do Medo




Chegou a hora de esquecer aquele carinha magrelo, babyface, agregador de adolescentes da década de 90, "rei do mundo" no Titanic afundando. Embora, justiça seja feita, ele já era um bom ator - em Gilbert Grape, fez muito bem o irmão lelé e dependente; e outros filmes aqui e acolá já se via o talento.


Mas a década dos 30, pelo jeito, é a década de ouro do Leonardo. Se não, vejamos: Diamante de Sangue; Os Infliltrados ( grande, grande personagem, grande filme); Revolutionary Road ( que atende pelo título absurdo, spoiler, de "Foi apenas um sonho") e agora, Ilha do Medo, mais uma vez com Scorcese ( já é a quarta parceria). Sem contar outros que não vou lembrar agora, caso de update. Tá faltando um Oscar na prateleira do di Caprio, assim como faltam na do Scorcese, sobram em outros, e por aí vai. Acho que já foi o tempo que o Oscar realmente era determinante de que aquele era o "melhor do ano", haja visto tanta gente incrível que sai com as mãos abanando. Nunca vou esquecer aquela vez que o Roberto Begnini saiu com a estatueta de Melhor Ator, por exemplo. Ou quando a Nicole Kidman ganhou da Julianne Moore, só porque deu uma enfeiada pra viver Virginia Woolf...Enfim, mas eu queria mesmo é falar do Di Caprio.


Ilha do Medo, uma espécie de terror psicológico, se passa numa prisão-manicômio cravada numa ilha sombria. Década de 50. Di Caprio e Mark Rufallo ( beleza e talento também habitam este cara) ~são dois investigadores federais encarregados de descobrir que fim levou uma prisoneira que miraculosamente escapou de uma cela de alta segurança. A partir daí, cresce a tensão e o mistério, porque di Caprio tem outras coisas a fazer na ilha - resolver traumas e pendências de sua vida pessoal, envolvendo a morte trágica da esposa. E num crescendo, numa interpretação a cada minuto mais visceral, di Caprio prende, amarra e coloca a tensão no olho da gente. é impressionante a entrega ao personagem, a verdade que cada centímetro dele grita, o tempo todo. É trabalho de ator de verdade, de carne, suor e lágrimas, é um negócio bonito de se ver. Com a ajuda luxuosa do elenco, diga-se de passagem, e de uma direção que, de tão bem feita, chega a emocionar, no sentido de ser uma homenagem ao cinema.


O filme deve ter defeitos, como apontam críticas aqui e acolá que eu, curiosa, vou lendo, mas quem se importa? Eu não. Só fico com aquela sensação de que é pra isso que serve a arte, é pra isso que serve esses talentos abençoados por aí: nos fazer sentir assim, gratificados por assistir uma obra desse quilate. É, talvez, uma questão que vai acima do ego (que não deixa de ser inevitável...), é uma questão de respeito por uma arte, de respeito por um trabalho que se faz e se sabe fazer tão bem. Scorcese é um grande mestre, e di Caprio, um perfeito instrumento.




sexta-feira, 9 de abril de 2010

Bastardos Inglórios


Vanessa Greff avisou, Vanessa Greff falou... "Tu tem que assistir". Como ela sabe muito bem a cerca de meus gostos, não titubeei ( eh coisa boa usar essa palavra). Fui, digo, trouxe-o até mim, no conforto do meu quarto improvisado na sala da minha irmã.

Bastardos Inglórios, duas ou três semanas depois, ainda ressoa, ecoa, e tudo mais.

Primeiro, o roteiro. Histórias paralelas a cerca da Segunda Grande Guerra, aquela que já rendeu tantos filmes. Mas Bastardos não é um filme de guerra, sendo. É um filme que trata de tantas coisas. De uma fantasia de final de guerra em que o "lado do bem" vence quase que com as armas do "lado negro da força", usando da mesma artilharia, digamos, e se permitindo criar um final fictício que todos nós (pertencentes ao lado do "bem" na maioria das vezes mas com a vontade atávica de usar, como ataque e vingança, as armas do "lado negro da força") sonharíamos, ou seja, pegando o mal intrínseco dentro de nós e botando com tudo pra fora, com a excelente desculpa de prestar um serviço à humanidade. Mas tangiverso, por não conseguir me ater ( ou não saber mesmo) a detalhes mais técnicos, como dizer, por exemplo, que o equilíbrio dos roteiros paralelos ( todos interligados e convergentes até o gran finale) é perfeito; que a atmosfera desse vai e vem te deixa grudado à tela, às falas, às cenas muito bem construídas.

Eu já tinha gostado ( embora meio que de embalo) de Pulp Fiction, mas achava em alguns momentos, gratuito, sem grandes empatias ( para mim), embora aquela embalagem pop-cult-sarcática muito me atraia. Achei Jack Brown meio sem porquê; Cães de Aluguel devo ter visto em momento errado ( a rever agora), e os Kill Bills sensacionais. Mas Bastardos sobe um bom degrau acima, justamente por essa coisa tão fundamental, pra mim, de contar uma puta história e contar muito bem. Com uma tensão presa na boca do estômago todo o tempo.

O elenco? Dos sonhos. Coloque ali o Sr. Jolie, o Brad, fazendo um caricato, violento, cínico e engraçado chefe de um grupo de soldados americanos com o singelo intuito de escaupelar o maior número possível de nazis, na companhia de atores desconhecidos do mainstream, e tá tudo muito excelente. O Tarantino tem disso: cata uns atores fodásticos que (quase) ninguém vê nos filmes e põe eles pra fazer o que sabem fazer, claro, com o plus de dar personagens que um ator de verdade almeja desde sempre. Palmas e o oscar pro Christopher Waltz, perfeito, irretocável, sen-sa-cio-nal como o coronel caçador de judeus escondidos.

Enfim, depois de todos esses adjetivos bombásticos, quero ver de novo. E ah, podem chamar o Tarantino de egocêntrico, referente demais, exagerado, pedante. Ele pode, fez um filme foda. Quantos caras por aí fazendo abacaxis estragados se achando o supra-sumo? Deixa o Taranta se achar. Ele tá com a bola toda mesmo.

Sem mais, agora vou ver Abraços Partidos.

Até mais, Gasparzinhos que (não) me leem.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Favoritos ( é só a primeira parte)


Para comemorar a volta triunfal a este quase que abandonado blog de cinema, venho com algumas imagens que são bálsamos aos olhos e coração. Atores que gosto muito. Alguns de beleza mais óbvia, outras nem tanto. Mas o charme, o talento, os bons papéis e aquele olhar são pontos em comum a todos.


Hugh Laurie. Dustin Hoffman.


Edward Norton.


Javier Barden.



Benicio del Toro.






Mais um pouco (por motivos óbvios).




Preciso dizer quem é o greatest hit?






Bons sonhos.





segunda-feira, 19 de maio de 2008

Volver


Esse texto já é um pouco antigo, de setembro lá do ano passado, o distante 2007. Mas li uma reportagem sobre Penélope em uma revista-de-sala-de-espera e me lembrei do filme. Então queria partilhar isso com ustedes, antes que ele passe na Tela Quente. Mas que digo? Embora seja caliente, não passaria nesse dia, creio eu. Enfim, talvez no extinto Carlton Cine, alguém lembra?

Vou ver Volver. Amanhã é dia de acordar cedo, diz o lado caxias da consciência. Mas...alguma coisa, do outro lado do cérebro, naquela região tão inexplorada, te diz: vai que rende.Então tá, meia volta, volver. Vou ver Volver ( perdoem o trocadilho infame, mas é irresistível, aguardem os próximos).E o filme começa, sinto certo temor, afinal, Fale com Ela ainda repercutia de várias maneiras. Pode um artista se superar?Sim, pode. Mas eu ouso dizer que neste filme Almodóvar não se supera. Talvez a obra máxima tenha sido Fale com Ela? A que resumiu tudo, até no título. Falem com a gente, rapazes, esse é o recado de um cara que saca muito as mulheres. Ele não saca de mulher. Ele saca da mulher.E, depois de Fale com Ela, ele vem com Volver, que poderia ter um subtítulo ( graças a Deus que dessa vez não puseram) como "Elas Falam".

Em Volver, a mulher é alpha. Ela supera o seu próprio rótulo de "sexo frágil" e segura todas. Com paciência, com determinação. Ela acolhe seu próprio destino e paga o seu preço de sofrimento. E ainda tem tempo de carregar na maquiagem, usar roupas coloridas e dar muita risada.Os personagens ( vou usar o feminino que na literatura a cerca da dramaturgia se usa, mas muito mais porque estamos a falar de poder e glória ), digo, as personagens tem histórias de vida como eu, como tu, como qualquer um tem,seja em que confim perdido do planeta. Beijam-se com real afeição, entre amigas - existe uma irmanação, acima da competição. Um sentido realmente prático de quebrar galhos, que é inerente ao feminino, emerge no melhor sentido de "uma mão lava a outra". Reclamando, explodindo, virando a cara, como é na vida dos mortais. Quando Penélope Cruz chora, sua maquiagem fica borrada e ela tem o rosto inchado. Mas a vida tem que continuar: amanhã há que se levantar cedo. E ninguém, só mesmo em Hollywood, consegue levantar com o baby-liss intacto na manhã seguinte.Tudo isso pra dizer que: Volver é tão seu título como há muito tempo não se via. As personagens se dão o direito de voltar atrás. Se dão o direito de voltar a vida. A mãe ressuscita - a morte, na "película", é um disfarce que esconde decisões drásticas. As personagens se dão até, o direito de matar, em nome do que é de mais instintivo na sua condição humana. E esse direito bebe na fonte dessa coisa tão subestimada, tão deturpada por estranhas representantes do nosso sexo, tão escondida em certos interiores, que é: o poder. e sua reação, a glória.E esse poder, que muitas vezes vem seguido de glórias delicadas, escondidas, quase invisíveis, é como um fio condutor que passa de geração para geração. Mas como boas mulheres, carregam também a marca da tragédia. Que parece que vem pelo sangue ( coisa que tem participação no filme, o vermelho maior, o vermelho original ) - o que acontece com a mãe, repete-se com a filha, e se mata, e se morre em vida, e se suporta, em nome de algo muito maior. A espera é inerente a condição feminina, mas o poder, o poder quando escondido e reavivado, transforma a espera em ação. E a glória, cada uma escolha de que maneira ela vai se dar. De alguma forma, ela vem, tão camuflada que nem sempre se percebe. Hay que estar despierta.As flores, vermelhas, se abrem nos créditos finais - todas as flores são manifestações de algo que precisava nascer. A beleza das personagens se traduz nas rugas, nos sapatos baratos, na pele não tão boa, nas marcas de uma noite ruim. Se traduz nas coisas que se cala e nos gestos silenciosos.Muy bien hecho, señor.

Almodóvar nos fala. Nos celebra. Nos coloca de novo no nosso posto de deusas, de verdadeiras sacerdotizas espalhadas pelas ruas de uma cidade. Mas, pensei: de uma forma muito humana, muito verdadeira, muito mortal. Poder e glória reside também na efemeridade da flor - estejamos acordadas no momento de se abrir. Hay que estar despierta.Meia volta, Volver.

Vá ver, não concorde comigo, sinta-se teleguiada (o)-atenção, aqui neste texto o (o) vem depois do a - por minhas impressões, não importa.Só peço: escute. Ele fala com a gente. Ele fala com elas. Ele deixa elas falarem.

Ane

Paris, te amo

Como se pode amar alguém ou alguma coisa ou algum lugar que nunca conhecemos? Que nunca conhecemos face to face, eu digo. Pois eu sou apaixonada por pessoas coisas lugares que nunca tive contato físico. Por épocas que não conheci. Remédio pra paixão, só uma invenção: máquina do tempo. Ou um genérico bem aprazível: passaporte tipo "pra viajar o mundo todo - sem prazo de validade".
Mas existe um lugar no mundo, um lugar que já faz parte do imaginário universal, eu creio, que me apaixona mais do que tudo e todos que conheci apenas na imaginação.
Esse lugar é Paris.
Clichê, eu sei. Mas fazer o quê?
E para reacender esse amor, que ia ficando um pouco amortecido pelas inevitáveis feiúras de nossas cidades ( que também tem suas bonitezas, mas às vezes tão escondidas), assisti "Paris, te amo".
Ah, e como...
Pensei, putz, outra comédia romântica? Não, não posso mais, dei um basta nelas, depois da última que eu vi, que não lembro, ainda bem, do título, mas sei que desperdiçava uma atriz como Julianne Moore. Mas saí tão saturada dessa noção deturpada, superficial, comercial do amor e afins de Hollywood que fiquei nauseada. Mas, espere, Ane, prestenção: Paris, te amo não foi feito em Hollywood. E é um filme feito por nada menos que 20 diretores de vários cantos do planeta.
O resultado poderia ser uma salada indigesta, mas não é isso que acontece. É um desfile de pontos de vista muito pessoais, muito diferentes um do outro e todos, todos eles, muito interessantes. Bem escritos, bem feitos: parece um oásis. Cada história acontece em um bairro de Paris, e a cidade, sob a lente desses cineastas, é - lá vem clichê - um poema vivo, iluminada, linda, como um ninho, como um berço, como um mergulho na beleza.
E o amor é visto de ângulos inusitados - há o amor homem-mulher jovens, maduros e idosos. Há o amor de mãe e filho,em uma triste e bela fábula com Juliette Binoche, e talvez no mais político, ou social, dos episódios, de Walter Salles e Daniela Thomas. Há o amor entre dois caras. Há o amor entre um humano e uma vampira, no melhor estilo Sin City. Há o amor inter-racial. Há o amor que quase se realiza. Há o amor pela cidade em si, no pungente, dolorido, fundamente melancólico episódio final com uma incrível e desconhecida atriz americana. O que mais me fisgou foi o episódio com Natalie Portman que conhece um estudante cego - é uma história perfeitamente encadeada dentro de seus 5 ou 6 minutos, é inocente, belo, delicado e muito bem escrito. Talvez, ao assitir esse episódio específico, vocês façam como eu, que adoro um repeteco: repitam algumas vezes, pois há muitos detalhes a se descobrir em cada vez.
Sei que estou me derramando em elogios. Mas é que estou apaixonada, movida por esse sentimento mais velho que o mundo. Então, fico assim, meio irracional, rendida a minha passionalidade que nunca foi pouca mesmo.
Paris: Marlon Brando dançando lá o último tango, Simone e Jean-Paul, Victor Hugo e sua criatura de Notre-Dame, o can-can tantas vezes retratado por Lautrec no Moulin Rouge, os impressionistas escandalizando a academia,Van Gogh perdendo-se em Monmartre, Jim Morrison dorme lá seu sono final. Paris dos cafés na calçada, Paris imaginária, Paris que ainda existe.
Paris: te amo.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

O nome dele é Johnny











Há aqueles deuses que estampam, mais do que a parede ou o verso da porta do quarto, a imaginação. Estátuas hollywoodianas. Não há quem escape, creio, daquele derramamento adolescente (eu, minha irmã, minhas amigas, com pastas cheias de fotos e qualquer coisinha que saísse naquele tijolinho de jornal). E há aqueles que transcendem o papel de deuses que nem pediram e passar a habitar outro departamento da imaginação, um departamento mais escondido, mais precioso, mais salvaguardado com um certo ciúme até. E os deuses deixam de ser deuses - afinal, essa denominação acabou por se tornar tão clichê - e passam a ter outra simbologia,mutante conforme o talento deles manipula.
E chego então a um nome: Johnny Depp.
Ele não tem um rosto perfeito, um físico avantajado, uma barriga esculpida, olhos azuis e nem, felizmente, uma bandeira dos EUA fazendo as vezes de terceiro olho. Mas eu ouço, na sala de professores, na sala de espera da dentista, na fila, na amiga da irmã mais velha,sempre um.. aaaaaahhhh, o Johnny Depp.
Ele não é...lindo?O melhor tipo de beleza,disparado: a que não era pra ser e não adianta, é, e é demais.
Gosto de atores que vivem os personagens mais absurdos como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo. Gosto de atores que sabem dizer um texto. Gosto de atores que aceitam o pacto. Que bancam. Que fazem disso uma profissão, e não uma chuva de arroz de festa. E ele, no universo dark de Tim Burton,em Sweeney Todd - de uma plasticidade deslumbrante e sinistra - desliza como uma sombra fluida. Com o devido desconto que esse universo tem de atração para mim, e de o filme por momentos ser arrastado, é algo que alivia: ver criadores forjando criaturas em meio ao nonsense que nos oferecem assim com tanta naturalidade. Uma fábula que é crível porque os atores, o diretor, o escritor, todos acreditam. Quase como um conto de fadas, porém macabro: sabe-se que não é de verdade, mas a imaginação dá conta e faz com que seja, e o melhor sonho mesmo é aquele que a gente tem de olhos abertos.
Alguns diretores sonham e filmam de olhos abertos, alguns atores se prestam e compactuam. É um ofício meio foda às vezes: o corpo, a voz, tudo é emprestado, e depois pode vir o vazio quando tudo termina e o personagem tem que desencarnar. À medida que Johnny Depp foi se tornando o que é, seus personagens foram crescendo na mesma proporção que a sua "celebridade" foi se tornando mais discreta. Vamos olhar mais atentamente: quais os atores que menos frequentam as revistas de fofoca e celebridade, pelo menos voluntariamente? Isso é mais do que coincidência. Não pretendo ser radical neste ponto, mas...
Sweeney Todd, o barbeiro demoníaco, é sanguinolento na medida em que o sangue pode colorir aquela melancolia intrínseca que reside numa vingança. Me lembra Victor Hugo, me lembra o pedaço de dor que a injustiça crava sempre; é um clássico de nascimento, delicado, doentio, lírico e absurdo. Coisas assim, que fazem uma ida ao cinema um escape da vida chamada "real" que cada vez imita menos o que a arte tem de bom...
Mas isso é outra história.
Mas, gurias (e guris, why not?), voltando ao Johnny - ele não provoca gritos histéricos. Mas sim, fundos suspiros.
Aaaaaaaaaaahhhhhh.
PS.: Há também Helena Bonham Carter, que adoro, e um menino que bota todo o elenco no chinelo quando abre a boca pra cantar. E o figurino, ah, deslumbrante. A Mariana bateria muitas fotos incríveis.