segunda-feira, 19 de maio de 2008

Paris, te amo

Como se pode amar alguém ou alguma coisa ou algum lugar que nunca conhecemos? Que nunca conhecemos face to face, eu digo. Pois eu sou apaixonada por pessoas coisas lugares que nunca tive contato físico. Por épocas que não conheci. Remédio pra paixão, só uma invenção: máquina do tempo. Ou um genérico bem aprazível: passaporte tipo "pra viajar o mundo todo - sem prazo de validade".
Mas existe um lugar no mundo, um lugar que já faz parte do imaginário universal, eu creio, que me apaixona mais do que tudo e todos que conheci apenas na imaginação.
Esse lugar é Paris.
Clichê, eu sei. Mas fazer o quê?
E para reacender esse amor, que ia ficando um pouco amortecido pelas inevitáveis feiúras de nossas cidades ( que também tem suas bonitezas, mas às vezes tão escondidas), assisti "Paris, te amo".
Ah, e como...
Pensei, putz, outra comédia romântica? Não, não posso mais, dei um basta nelas, depois da última que eu vi, que não lembro, ainda bem, do título, mas sei que desperdiçava uma atriz como Julianne Moore. Mas saí tão saturada dessa noção deturpada, superficial, comercial do amor e afins de Hollywood que fiquei nauseada. Mas, espere, Ane, prestenção: Paris, te amo não foi feito em Hollywood. E é um filme feito por nada menos que 20 diretores de vários cantos do planeta.
O resultado poderia ser uma salada indigesta, mas não é isso que acontece. É um desfile de pontos de vista muito pessoais, muito diferentes um do outro e todos, todos eles, muito interessantes. Bem escritos, bem feitos: parece um oásis. Cada história acontece em um bairro de Paris, e a cidade, sob a lente desses cineastas, é - lá vem clichê - um poema vivo, iluminada, linda, como um ninho, como um berço, como um mergulho na beleza.
E o amor é visto de ângulos inusitados - há o amor homem-mulher jovens, maduros e idosos. Há o amor de mãe e filho,em uma triste e bela fábula com Juliette Binoche, e talvez no mais político, ou social, dos episódios, de Walter Salles e Daniela Thomas. Há o amor entre dois caras. Há o amor entre um humano e uma vampira, no melhor estilo Sin City. Há o amor inter-racial. Há o amor que quase se realiza. Há o amor pela cidade em si, no pungente, dolorido, fundamente melancólico episódio final com uma incrível e desconhecida atriz americana. O que mais me fisgou foi o episódio com Natalie Portman que conhece um estudante cego - é uma história perfeitamente encadeada dentro de seus 5 ou 6 minutos, é inocente, belo, delicado e muito bem escrito. Talvez, ao assitir esse episódio específico, vocês façam como eu, que adoro um repeteco: repitam algumas vezes, pois há muitos detalhes a se descobrir em cada vez.
Sei que estou me derramando em elogios. Mas é que estou apaixonada, movida por esse sentimento mais velho que o mundo. Então, fico assim, meio irracional, rendida a minha passionalidade que nunca foi pouca mesmo.
Paris: Marlon Brando dançando lá o último tango, Simone e Jean-Paul, Victor Hugo e sua criatura de Notre-Dame, o can-can tantas vezes retratado por Lautrec no Moulin Rouge, os impressionistas escandalizando a academia,Van Gogh perdendo-se em Monmartre, Jim Morrison dorme lá seu sono final. Paris dos cafés na calçada, Paris imaginária, Paris que ainda existe.
Paris: te amo.

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